Shatkarma

Shatkarma é o nome dado aos seis kriyás (práticas de purificação yogui ou exercícios de limpeza interna do corpo para equilíbrio da mente) elaborados pelos antigos mestres e descritos nas escrituras tradicionais de yoga, como o Hatha Yoga Pradípiká (séc. 14) e o Gheranda Samhita (séc. 16).
O objetivo dos seis kriyás é eliminar as toxinas e purificar o organismo do praticante, preparando-o para os asanas e pranayamas. Nesse processo, que vai além do fisiológico, equilibram-se também os três doshas e as emoções.

Kapálbháti

Visa a purificação da região frontal do cérebro.
São três práticas:
Váma-krama: o ar puxado por uma narina é expelido pela outra, repetindo-se o processo inversamente.
Vyut-krama: água é absorvida pelo nariz e depois descartada pela boca.
Shít-krama: ao contrário do anterior, água é absorvida pela boca e expelida pelas narinas.
Entre os benefícios desse kriyá estão a desobstrução das artérias, o estímulo do sistema nervoso e o aumento a elasticidade dos pulmões. Além disso, ele ajuda na oxigenação do cérebro. No campo das emoções, o exercício fortalece a autoconfiança e a capacidade de controle da mente.

Neti

É a purificação das fossas nasais, e também pode ser realizada de duas maneiras.
Em uma delas, uma colher de chá de sal grosso é adicionada a ½ litro de água mineral, que, depois de fervida e amornada, entra pela narina direita (com o auxílio de um lota, instrumento apropriado que parece um bule), enquanto a cabeça fica levemente inclinada para o lado esquerdo. A água, então, é eliminada pela narina oposta. Em seguida, o processo é repetido a partir da outra narina.
O segundo método consiste na utilização de um fio delgado médio (de 22 a 28 cm), inserido em uma das narinas e retirado lentamente pela boca.
O neti, que pode ser realizado diariamente, pela manhã, combate a rinite, a sinusite e outros males respiratórios.

Nauli

É praticado para reforçar os músculos abdominais e equilibrar as actividades dos principais órgãos da região: estômago, fígado e intestinos.
O exercício dá-se com o movimento dos intestinos e do estômago de um lado para o outro, fazendo com que os órgãos internos sejam pressionados contra a espinha dorsal.
Esse é um dos kriyás que mais pedem o auxílio de um profissional experiente. Segundo os escritos tradicionais, o ventre deve ser movimentado de forma ondulante, enquanto o diafragma é elevado.
Ele serve também para eliminar enfermidades diversas e aumentar o fogo gástrico.

Trataka

Esse kriyá pede que se fixe o olhar, sem pestanejar, em qualquer objecto pequeno, até que lágrimas comecem a fluir. Ao chegar a esse ponto, aplica-se o calor das mãos nos olhos, massajando a musculatura.
Pode ser feito somente com um olho ou com ambos, simultaneamente.
É importante atentar também à postura, que deve ser confortável, sem forçar qualquer parte do corpo.
Entre os benefícios, estão o aumento do poder de concentração, o alívio de problemas oculares e o fortalecimento da clarividência.






Dhauti

É um kriyá que se desdobra em quatro tipos: danta-dhauti, hrid-dhauti, múla-soddhana e antar-dhauti.
De modo geral, visa a limpeza dos dentes, dos órgãos dos sentidos (boca, nariz, olhos e ouvidos), do coração e do aparelho digestivo, utilizando como instrumentos de purificação o ar, a água, a gaze e a haste.
O exercício de uma de suas variantes, a mais comum, consiste em pressionar várias vezes o abdômen contra a coluna vertebral, a fim de curar enfermidades estomacais e incrementar o fogo interior.
A limpeza dos dentes é menos complicada. Segundo os escritos, para o asseio da dentição, o segredo é esfregar nos dentes acácia em pó ou terra pura, até o desaparecimento total das impurezas.

Basti

É a técnica de lavagem e tonificação do intestino grosso. Pode ser feita de duas formas: com água ou a seco.
O procedimento com água (que deve ser mineral, morna e salgada) é feito com o corpo submerso até o umbigo em 2 litros do líquido já preparado. A água deve entrar no corpo pelo ânus e, em seguida, evacuada. O processo é repetido até gerar uma evacuação límpida.
Essa prática também exige tempo para ser executada (de uma a duas horas) e muito conhecimento – realizá-la por conta própria pode acarretar problemas à flora intestinal.
O segundo método, realizado a seco, exige domínio máximo da musculatura do abdômen. Aí fica só para quem já tem muita experiência mesmo.
O basti, de modo geral, tem a finalidade de evitar problemas urinários e digestivos.